Mar,
Mulher
Nas encostas, presentes sempre está. Mesmo
calma, demonstra imensa força, uma energia contida, num toque feminino de
espera e paciência...
Sua força acumula-se ao passo das coisas,
transborda ao sabor do vento, tremula em ondas, cintilando um brilho belo,
evaporando concentrando seu sal... Suave, toca rochedos impassíveis, acaricia
fendas cortantes, derramando-se sobre eles com dedos macios, vai infiltrando
nas rachaduras, empoçando nos rebaixos, transformando-os, moldando-os,
salgando-os, dando de si...
Com aparente sofreguidão, beija as praias e
baias, delineando a procura de algo que não sabe e nem conhece, mas continua
indo e vindo... Incansável e sempre diferente, vai e vem...
Em si, longe do quadro, à revelia, ao som
triste embargado em voz de sereia, encontra-se imensa, às vezes, calma demais,
noutras, puta!
Furiosa, chora confusa, então ri, embora
triste, espera...
Tudo parece à deriva, no oceano que te
envolve, sabes que podes contar com o sol e a chuva, o dia e a noite... E tudo te toca, te move, te muda...
Ora doce, ora salgada, ora quente ora
fria... Então o vento é um caminho, o calor do sol alimento, a chuva desabafo,
o amanhã um recomeço, à noite esperança...
O tempo passa, e sabes que também cresce, e
quando as coisas parecem insuportáveis, a vida lhe dá suprimento/ base,
extraindo, quase arrancando sua reação, e em sua arre-bentação, encontra seu
espaço, sua vida...
Seria você, mar? Mulher? Ou meu amor?
(Marinheiro)